quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Não é espetáculo

Ao longo do curso de Jornalismo Investigativo, lecionado pelo professor Leonel Aguiar, muitas mensagens foram acrescentadas e outras foram reforçadas no subconsciente dos alunos.
Ocorreram muitos debates enriquecedores, surgiram personagens inesquecíveis, mas sobretudo, o legado que fica é formado pelas questões que os futuros jornalistas, mais cedo ou mais tarde, vão ter que se deparar no exercício da profissão. Algumas dessas reflexões ficaram registradas na história da imprensa, para que nunca se esqueça que a missão do jornalista é para com a sociedade. Seguem os destaques do levantamento feito pelo INFORME INVESTIGATIVO.
“Três jornais me fazer mais medo do que cem mil baionetas”. – Napoleão Bonaparte, Imperador da França.

“Jornalistas são os trabalhadores manuais, os operários da palavra. O jornalismo só pode ser literatura quando é apaixonado”. – Marguerite Duras, escritora e cineasta francesa.

“A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”. – Gabriel García Márquez, escritor colombiano.

“O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”. – Cláudio Abramo, jornalista brasileiro.

“A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro”. – Noam Chomsky, linguista e filósofo americano.

“A liberdade de imprensa é irmã siamesa da democracia. Uma sem a outra não vive”. – Rui Celso Reali Fragoso, vice-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo.

“A imprensa é a luz da liberdade”. – John Milton, poeta inglês.

“Não tem que agradar ao dono, ao político, a nós mesmos. Tem que agradar ao público”. – Ricardo Kotscho, jornalista brasileiro.

“A sociedade que aceita qualquer jornalismo não merece jornalismo melhor”. – Alberto Dines, jornalista e escritor brasileiro.

“A sociedade é maior que o mercado. O leitor não é consumidor, mas cidadão. Jornalismo é serviço público, não espetáculo”. – Alberto Dines

Filho da rua

O prêmio Vladimir Herzog deste ano premiou na categoria “Criança em Situação de Rua” a reportagem “Filho de rua”, de Letícia Duarte e Jefferson Botega, do jornal Zero Hora. Na entrevista abaixo, a jornalista fala sobre as influências que seu texto sofreu. Apesar de a apuração ter caráter investigativo, principalmente pelo fato de que demorou três anos para ser concluída, Letícia diz que o estilo das reportagens se aproxima do jornalismo literário.





Também conhecido como “Literatura da realidade”, o jornalismo literário vem ganhando força. Há os que acreditem que o jornalismo impresso deve seguir para textos cada vez mais curtos, porque os leitores estão sem tempo para se aprofundar nos assuntos. E, apesar das escolas de comunicação ainda ensinarem o método ocidental clássico de lead e pirâmide invertida, este prêmio e a popularidade da série de reportagens “Filho de rua” mostram como o público anseia por textos de qualidade, que alcancem o cerne das questões sociais debatidas, como neste caso, com a situação das crianças de rua. Um fato que contraria a frase do poeta britânico Matthew Arnold: "Jornalismo é literatura com pressa".

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Daqui a dez anos

A criação da Abraji, há uma década, foi motivada, nas palavras no próprio vice-presidente da instituição, Marcelo Moreira, pela morte do jornalista Tim Lopes. Há cinco dias eles divulgam a seguinte notícia: “Jornalista é assassinado em Campo Grande - MS”. Eduardo Carvalho escrevia uma matéria sobre os bastidores da polícia. Há dez anos, a matéria que motivou a morte do jornalista foi sobre o tráfico. Daqui a outros dez anos – e Deus sabe, quantas mortes depois –, quem, ou melhor, que parte podre da sociedade vai tentar calar a mídia?

A organização Repórteres Sem Fronteiras publicou uma nota de condolências pela morte do Eduardo, e continua a conta, que há alguns meses fez a ONU classificar o Brasil no quarto lugar do ranking de países onde jornalistas são mortos por motivos ligados à profissão.
"Os responsáveis ​​por este assassinato não devem ficar impunes. Ele traz o número de jornalistas mortos este ano no Brasil a 11. Em três desses casos, uma ligação foi estabelecida com o trabalho da vítima, enquanto mais estudos são necessários em quatro outros casos.
No Dia Internacional pelo Fim da Impunidade, instamos as autoridades para investigar o assassinato de Carvalho tão completamente e tão depressa quanto possível, especialmente porque há indícios de que ele estava ligado a seu trabalho jornalístico".

Até agora, o anúncio do levantamento da ONU não provocou melhoras. Pelo contrário. Em dois meses aumentamos a conta de sete para onze. Imagine nos próximos dez anos...

"Quem tem televisão, rádio e jornal está sempre no poder"

Esta frase é de Antônio Carlos Magalhães, considerado um dos maiores coronéis que a política brasileira já viu. Encontrei essa declaração encaixada em um dos parágrafos do artigo “Políticas públicas de comunicação e controle da mídia no Brasil”, do professor Paulo Fernando Liedtke.

A tese tenta traçar os caminhos que os jornalistas brasileiros atravessaram. Independente da época – seja Império, Estado Novo ou Ditadura, por exemplo – as editorias tiveram eu se adaptar à política. O “Gatekeeper”, como já se sabe, controla aquilo que é transformado em notícia. O problema é quando a notícia não pode sair do portão.

A conclusão que se chega, através do artigo e da leitura crítica diária dos meios de comunicação contemporâneos é que cabe à sociedade pautar os veículos, pois os cidadãos têm poder para isso.
“Portanto, se a mídia é um serviço público, ela deve estar submetida ao controle social.Isto não significa censura ou relações arbitrárias e burocráticas, mas criar alternativas para debater com a sociedade os problemas da sua atuação, como formas de garantir a pluralidade e a qualidade informativa.”

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O que aprender com Tim


Em declaração ao INFORME INVESTIGATIVO, a estudante de Jornalismo e produtora do documentário “Histórias de Arcanjo” Ana Luiza Carvalho destacou alguns dos pioneirismos de Tim Lopes, que, na opinião dela, são mais difíceis para um jornalista alcançar hoje.

“O filme vai mostrar um tipo de jornalismo investigativo que infelizmente não existe mais nas redações hoje em dia, por isso acredito que seja de muito valor para os estudantes. O Tim vivenciava as situações antes de escrever sobre elas, se transformava em personagens da rua para descobrir como era a vida daquelas pessoas. Imagina hoje em dia em uma redação você falar que vai ficar duas semanas fora para fazer uma matéria? Não tem mais tempo para isso, e era isso que o Tim fazia quando se internava em uma clínica de dependentes químicos ou se inscrevia para ser operário do metrô. Dessa forma, ele chegava a uma riqueza de detalhes que seria impossível você conseguir em um dia de apuração. Ao mesmo tempo, vai discutir questões que ainda estão em pauta hoje em dia, como o uso da micro câmera e a relação dos veículos de comunicação com o tráfico. Além disso, conta a história de um jornalista que se formou na rua, que foi à luta e que deu voz a uma classe da sociedade que, na época, não tinha espaço na mídia. Foi através de uma reportagem dele que pela primeira vez um negro saiu na primeira página do jornal. Era um jornalista que representava o povão, que além de denunciar o tráfico e os viciados, tinha o cuidado de olhar para a situação deplorável dos presídios e das clínicas de reabilitação.”

Como estudante, Ana conta lições que tem aprendido com a proximidade cada vez maior com as matérias de Tim, que são exemplo para as novas gerações de jornalistas.
“... Sempre estou lendo muitas matérias do Tim. São matérias muito humanas e que não necessariamente seguem aquela regra de uma matéria jornalística que a gente aprende na faculdade. Tem matérias que ele coloca em primeira pessoa, em outras descreve em detalhes o que ele presenciou e você acaba sendo transportado para a matéria, como se você também estivesse vivenciando aquilo. São matérias da década de 70 e 80 que eu nunca teria acesso se não estivesse trabalhando no filme, então está sendo muito enriquecedor para minha visão do jornalismo da época, além de estar em contato com uma outra maneira de se fazer jornalismo: uma maneira mais social”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Por trás de uma grande notícia


Com um tom um tanto sensacionalista, o vídeo do canal do youtube BHverdade não cala, divulgado em outubro, tem o objetivo de mostrar uma visão que julga imparcial a trajetória do jornalismo da Rede Globo.
Vários casos são usados como exemplo para justificar esta opinião.

O primeiro deles, e mais recente, é o lançamento do livro “Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Junior, que, segundo os produtores do canal, não foi divulgado por nenhum dos veículos jornalísticos globais, enquanto, no restante da mídia, tomava a fama de “livro que pode virar CPI”.

Outro caso citado é o do Procurador Geral da República na época do governo FHC (PSDB), Geraldo Brindeiro, que recebeu mais 600 processos em seu mandato, e arquivou a maioria.

As comparações entre mídias foram realizadas também nos portais virtuais de empresas concorrentes. Mas o foco, em determinado momento, recai para o famoso caso de manipulação do último debate entre Collor e Lula, em 1989 – fato assumido por Boni, diretor geral da Rede Globo na época.
Sensacionalismos (e músicas de fundo épicas/dramáticas) à parte, podemos filtrar alguns exemplos e algumas declarações que contribuem para a formação ética do jornalista. Como a frase de Otávio Tostes, diretor de textos do Jornal Nacional na época.
“Isso não é jornalismo. É o serviço mais sórdido que já fiz na minha vida... Aquilo é uma peça antológica de mau jornalismo... Coisas que não devem se repetir nunca mais.”
Entretanto, devemos ter em mente, para nossa própria autocrítica, as palavras do advogado Manoel Gonçalves Ferreira Filho:
“Os que o controlam, os que a fazem – os comunicadores – são humanos, têm interesses, predileções, que, por um lado, influenciam a sua visão das coisas, por outro, os levam a torcer os fatos no sentido que serve a esses interesses ou predileções.”

Vale a pena dar uma olhada no vídeo:



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Por um Google mais democrático


Os jornalistas Craig Timberg e Paula Moura do Washington Post publicou esta semana o resultado de uma pesquisa que destaca o Brasil como o país com maior demanda de pedidos para retirada de vídeos do youtube, dentre as 1.900 solicitações de governos de todo o mundo no ano passado.
Segundo os dados, “quase 2/3 dos pedidos do Brasil ao Google (dono do youtube) para a retirada de conteúdo vêm de cortes e não da polícia ou poder executivo”.
O blog da Andradeteles debateu o assunto usando como exemplo o recente caso do diretor-geral do Google no Brasil, Fabio Jose Silva Coelho, por não retirar um vídeo considerado ofensivo ao candidato à prefeitura de Campo Grande, no Mato Grosso.
No próprio Washington Post, o jornalista Dominic Basulto ajuda a esclarecer até onde um governo pode interferir na liberdade de expressão dos usuários dos serviços Google, com base no Relatório Anual de Transparência de 2012 da multinacional.
“É fácil imaginar um futuro onde os governos desejam ocultar certas informações de resultados do Google Search Engine ou censurar os tipos de discurso político livre que a internet permitiu. A partir desta perspectiva, o Relatório de Transparência do Google é um passo na direção certa quando se trata de responsabilizar o governo dos EUA por suas ações, nos alertando para as formas que as autoridades nacionais e estrangeiras estão tentando dobrar a Internet para seus próprios propósitos.”