sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O que aprender com Tim


Em declaração ao INFORME INVESTIGATIVO, a estudante de Jornalismo e produtora do documentário “Histórias de Arcanjo” Ana Luiza Carvalho destacou alguns dos pioneirismos de Tim Lopes, que, na opinião dela, são mais difíceis para um jornalista alcançar hoje.

“O filme vai mostrar um tipo de jornalismo investigativo que infelizmente não existe mais nas redações hoje em dia, por isso acredito que seja de muito valor para os estudantes. O Tim vivenciava as situações antes de escrever sobre elas, se transformava em personagens da rua para descobrir como era a vida daquelas pessoas. Imagina hoje em dia em uma redação você falar que vai ficar duas semanas fora para fazer uma matéria? Não tem mais tempo para isso, e era isso que o Tim fazia quando se internava em uma clínica de dependentes químicos ou se inscrevia para ser operário do metrô. Dessa forma, ele chegava a uma riqueza de detalhes que seria impossível você conseguir em um dia de apuração. Ao mesmo tempo, vai discutir questões que ainda estão em pauta hoje em dia, como o uso da micro câmera e a relação dos veículos de comunicação com o tráfico. Além disso, conta a história de um jornalista que se formou na rua, que foi à luta e que deu voz a uma classe da sociedade que, na época, não tinha espaço na mídia. Foi através de uma reportagem dele que pela primeira vez um negro saiu na primeira página do jornal. Era um jornalista que representava o povão, que além de denunciar o tráfico e os viciados, tinha o cuidado de olhar para a situação deplorável dos presídios e das clínicas de reabilitação.”

Como estudante, Ana conta lições que tem aprendido com a proximidade cada vez maior com as matérias de Tim, que são exemplo para as novas gerações de jornalistas.
“... Sempre estou lendo muitas matérias do Tim. São matérias muito humanas e que não necessariamente seguem aquela regra de uma matéria jornalística que a gente aprende na faculdade. Tem matérias que ele coloca em primeira pessoa, em outras descreve em detalhes o que ele presenciou e você acaba sendo transportado para a matéria, como se você também estivesse vivenciando aquilo. São matérias da década de 70 e 80 que eu nunca teria acesso se não estivesse trabalhando no filme, então está sendo muito enriquecedor para minha visão do jornalismo da época, além de estar em contato com uma outra maneira de se fazer jornalismo: uma maneira mais social”.

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