segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Com qual critério eu vou?

A série de TV Newsroom retrata o dia a dia de um noticiário televisivo que decidiu reformular toda a sua estrutura de divulgação reavivando critérios jornalísticos. Alguns pontos levantados pelos  personagens são, por exemplo, a importância da notícia para o público, independente da natureza política dos fatos; o cuidado em apresentar as diversas vozes envolvidas nos casos noticiados. E, é nítido, que estas preocupações estão incluídas no critério de noticiabilidade escolhido pelo veículo.

O que acontece no oitavo episódio da série é o que ocorre diariamente nas redações reais. Pressionados pela queda de audiência, a equipe do jornal utópico, teve de ceder à demanda do público e noticiar, assim como os demais jornais, uma notícia de maior interesse DO público do que de próprio interesse público.

Eis o confronto interno no critério de noticiabilidade.

Os critérios clássicos para a definição da notícia são: a notoriedade, a proximidade, a relevância e a significatividade dos acontecimentos.

Segundo Galtung e Ruge, a negatividade é outro fator de relevância, pois “as más notícias vendem mais do que boas notícias. Além disso, são mais fáceis de noticiar do que boas notícias. Entre as más notícias há uma certa hierarquia na preferência do leitor, telespectador, ouvinte ou internauta. O noticiário envolvendo morte tem grande impacto junto à audiência. As mortes por assassinato são as que mais comovem e, consequentemente, atraem o público. Depois vêm as notícias de mortes por atentados, guerras e conflitos diversos, acidentes aéreos, automobilísticos ou por qualquer meio de transporte e as tragédias naturais. A morte de celebridades, trágica ou não, também têm grande poder de atração da audiência por parte dos meios de comunicação.

“A cultura da mídia e o triunfo do espetáculo” de Douglas Kellner, ele cita o jornalista Neil Gabler, para definir como a vida cotidiana tem se transformado em um show pela pressões do próprio público.

“Para Neil Gabler, na era do espetáculo, a própria vida está se tornando um filme e nós criamos nossas próprias vidas como se fosse um gênero para cinema ou televisão, no qual nos tornamos imediatamente, intérpretes e plateias de um grande espetáculo em desenvolvimento” (1998:4). Na visão de Gabler, somos astros em ascensão e transformamos nossas vidas em entretenimento que é levado a plateias formadas por nossos semelhantes, seguindo os scripts da cultura da mídia, adotando seus padrões e sua moda, seu estilo e visual. Observando nossas vidas em termos cinematográficos, o entretenimento se torna para Gabler “provavelmente, a força mais persuasiva, poderosa e resistente do nosso tempo – uma força tão absoluta que se transformou em vida” de tal maneira que é impossível fazer distinção entre ambos (1998: 9). Na visão de Gabler, Ralph Lauren é nosso especialista de moda; Martha Stewart desenha nossos cenários; Jane Fonda modela a silhueta de nossos corpos e Oprah Winfrey nos orienta quanto aos nossos problemas pessoais.”

A tese de Kellner pode ser resumida da seguinte forma: a mídia traduz tudo a grandes espetáculos. Produz muito e diz muito pouco. Seu conteúdo é banal e sem substância. Uma das soluções propostas pelo autor é resistir ao espetáculo. Ele convida o telespectador a deixar de agir como protagonista e se entender como de fato é: um mero espectador. E a partir daí, não se conformar mais com notícias que não atendem a suas necessidades sociais, políticas, culturais, econômicas, enfim, aquilo que atenda à realidade de suas questões como ser humano social.

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